Bert Hellinger é categórico ao afirmar que todos têm o direito a pertencer.
Por pertencimento entende-se subjetivamente que indivíduos de uma mesma espécie ou origem se reconhecem como pertencentes a um núcleo, ou seja, a um sistema.
Ainda sobre esta lei nas constelações familiares, crianças não nascidas, indivíduos expulsos de casa, mortes precoces, genocídios, assassinatos, são situações difíceis de serem lembradas, faladas e por esse motivo e muitos outros não são falados ou lembrados.
Falar sobre pertencimento relacionado às mulheres faz com que voltemos ao que foi escrito anteriormente quando falamos de hierarquia.
A mulher quando deixou de lado o culto ao sagrado feminino foi aos poucos deixando de ser honrada e deixou de ocupar seu lugar que até então era de quase uma Deusa perdeu seu lugar de direito, a muito deixou de opinar, não é necessário ir muito longe na história.
Na idade média, as mulheres eram excluídas da sociedade e do convívio com o seu próprio sistema biológico, familiar, eram rechaçadas pelos seus maridos e por toda família dele pelo simples fato de não conseguir engravidar, por não dar ao companheiro um filho homem, por não irem a igreja, por ficarem viúvas, ou seja, por qualquer motivo elas eram excluídas literalmente.
Mulheres à frente do seu tempo, que ousaram ir além do que lhes era permitido, foram queimadas vivas nas fogueiras da “Santa Inquisição” pelo simples fato de curar com chá, por discordar de seus companheiros, por dançar, etc.
Graças a tecnologia hoje se comprova com um simples espermograma a infertilidade de muitos homens.
Se voltarmos no tempo, o cavalo era o meio de transporte mais rápido e eficiente que se tinha e muitos homens desenvolviam varicocele (Alargamento das veias dentro do escroto) ela pode se desenvolver devido ao mal funcionamento desta válvula ou por compressão desta veia, neste caso a cela do cavalo.
Tudo isso para chegar a uma conclusão triste, as mulheres eram 100% culpadas por não engravidarem.
Elas não prestavam para “dar” herdeiros e, portanto, não serviam e eram descartadas ou para agonia da família biológica eram devolvidas.
A culpa sempre recaía sobre a MULHER!
As mulheres perdiam o direito a pertencer por ficarem histéricas em suas tpms, não entendiam o que acontecia e eram trancadas em manicômios para serem tratadas a base de eletrochoque ou estimulação do clitóris que as levavam a exaustão.
Sem ter a quem recorrer, sem ter com quem e sem poder falar, se manifestar, foram ao longo dos tempos sendo mais e mais subjugadas, encarceradas, entendidas, caladas.
Vimos ao longo da história mulheres sendo queimadas vivas, acusadas de bruxaria porque mostravam o corpo, porque se apaixonavam por outros homens, porque cozinhavam ervas que eram medicamentos, porque tinham marcas de nascença, por terem o cabelo ruivo, etc.
Onde está essa Mulher?
Todo direito a pertencer permanece ainda sob o jugo do masculino, lutamos sim e muito por direitos que nos foram tirados ao longo dos tempos.
À qual lugar nestas ordens do amor de Bert Hellinger esta mulher está inserida?
Há tempos, deixou de ser honrada e de ocupar seu lugar de nascença de direito.
A mulher contemporânea busca com bravura encontrar seu lugar no mundo, as dificuldades são imensas, com barreiras quase intransponíveis.
Se uma exclusão gera uma sobrecarga em todo o sistema familiar, o que a ausência da mulher como parte integrante e ativa de uma sociedade poderá causar no inconsciente coletivo masculino e feminino?
Está exclusão das mulheres, do convívio direto com os homens nas tomadas de decisões em todos os setores da vida gerou um emaranhado sem precedentes na história da humanidade, o que antes era harmonioso e dividido em igualdade, o homem tomou para si, gerando uma imensa sobrecarga no próprio sistema que está saturado, farto e envolto num emaranhado sem fim.
Esse desequilíbrio criou o que vimos ao longo da história e hoje na contemporaneidade: intolerância, dor, mal humor, tristeza, stress, impaciência, irritação, inflexibilidade, intransigência, etc.
Os efeitos colaterais de toda essa carga, e dos emaranhados, são devastadores porque refletem diretamente no estado geral dos homens e das mulheres.
Sem saber o que fazer e nem como extravasar toda esta carga emocional os homens e mulheres acabam caindo nas armadilhas da sutilização, ou seja, o uso excessivo de álcool, drogas, ansiolíticos, calmantes, jornadas cada vez mais excessivas e estressantes de trabalho dentre outras válvulas de escape.
Tudo tomou uma proporção tão desmedida que gera e cria a grande maioria das doenças psicossomáticas, e o desenvolvimento dos grandes males da humanidade, que é a depressão, que está relacionada ao excesso de passado e a ansiedade que é o excesso de futuro, não permitindo que ninguém viva mais no presente.
Os dois por estarem fora de seus lugares de pertencimento sofrem as consequências deste afastamento, que pode ser chamado de emaranhado, desarmonia, competição, desamor. O desgosto, a contrariedade, a solidão, as decepções, o desamparo causa a desarmonia e insatisfação em ambos.
Podem me chamar de sonhadora, mas tenho certeza que chegará o dia em que homens e mulheres andarão lado a lado, um cuidando do outro, sendo cuidadosos consigo mesmos, dando e recebendo em igualdade. Como no livro de Alexandre Dumas na célebre frase dos três mosqueteiros “um por todos e todos por um”.
Assim nasceria o equilíbrio de troca perfeito.
O dar e receber, equilibrado!